Os trabalhadores são sempre iludidos por promessas nunca cumpridas. |
O PREÇO DA EXPLORAÇÃO
Na minha segunda viagem a Bolívia, me deparei no ônibus com um senhor do lado esquerdo que conversava com meu visinho de poltrona. A princípio uma convesa fútil, nada que chamasse atenção.
Eu aproveitei para ver a paisagem e contemplar os rios da bacia amazônica por onde passava-mos. Uma ponte de ferro estreita onde só passa um veículo, feita de ferro, bem construída. O gado no pasto em fazendas enormes. Casas e céu limpo. Uma paisagem encantadora com vívida tranformação humana, para uma terra em que no passado só contava com arvores, mata.
De súbito, o senhor me chamou a atenção ao entrar em um assunto interessante. Ele começou a falar do passado glorioso dos seringais da região. Isso me despertou os ouvidos. Fiquei curioso e passei a espreitar a conversa que se tornou interessante. Ele falava dos primeiros seringueiros que movidos pelas promesas patronais de fortuna e estrutura, eram motivados a trabalhar incessantemente. Os patrões eram estrangeiros.
A conversa fluiu de forma interessante, e eu me permiti viajar em imaginação voltando a época em que eu não estava lá. Formigueiros de homens esperançosos e chegando de todos os cantos, alegres para o trabalho. Patrões motivadores e sorridentes, educados, com seus charutos ou cigarros importados, com sapatos de qualidade, roupas confortáveis, aviões ou carros como meio de transporte. Sempre felizes pela oportunidade de ter mão de obra farta e barata.
Depois de um prodigioso relato, o homem mudou a entonação da voz e fez uma triste conclusão de seu quase épico relato. "Todos os seringueiros que foram pioneiros, todos acabaram cegos pela fumaça". Fiquei chocado! Claro que eu não teria a torpe ilusão de que as promessas dos patrões seriam verdadeiras, e que os seringueiros ficariam ricos. Fiqui chocado com o final trágico. Trágico até demais. O que fiquei a imaginar é que nenhum patrão, provavelmente teve esse mesmo fim. Aliás, os seus netos devem desfrutar até hoje da riqueza gerada pelos seringueiros cegos. Por outro lado, os netos dos seringueiros devem ter ficado apenas com a estória de seus avós, como herança.
Ao saber desse desfecho trágico, imaginei os lamentos de dor e angustia desses trabalhadores. Suas decepções, seu abandono.... Voltei a realidade e passei a olhar com mais carinho as fazendas, as casas, o gado no pasto, a ponte de ferro feita para o progresso da região, e sem parafusos, só com rebites, como fez questão de frisar o senhor todo orgulhoso do meu lado, "e feito por estrangeiros em". Olhei com mais atenção os caminhões de carga que transportavam a riqueza da região, e fiz um momento de silêncio em meu coração, em memoria de todos os pioneiros que motivaram o progresso da região de Rôndonia por onde passo agora, e de onde desfruto de um relativo conforto, fruto daquele glorioso esforço humano. O fiz em memória de todos os proletários anônimos e esquecidos, e que ficaram cegos!
O proletário é descartado quando sua força de trabalho se esgota |
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