Aii de mim!
Aii probre de mim!
Aqui estou ó Deus para entender que crime cometi contra vós?
Mas sei nasci, eu já entendo o crime que cometi,
Ai está motivo suficiente para vossa justiça,
Vosso rigor, pois o crime maior do homem é ter nascido.
Para apurar meus cuidados, só queria saber que outros crimes cometi contra vós
Além do crime de nascer, não nasceram outros também?
Pois se outros nasceram que privilégios tiveram que eu jamais gozei?
Nasce uma ave, embelezada por seus ricos enfeites não passa de flor de plumas
Ramalhete alado quando veloz, cortando salões aereos!
Recusa piedade ao ninho que abandona em paz
E eu, tendo mais instinto tenho menos liberdade?
Nasce uma fera, com a pele respingada de belas manchas que lembram estrelas
Logo atrevida, feroz, a necessidade humana lhe ensina a crueldade
Monstro de seu labirinto!
E eu, tendo mais alma tenho menos liberdade?
Nasce um peixe aborto de ovas e lodo,
E feito um barco de escamas sobre as ondas, ele gira, gira por toda a parte
Exibindo a imensa habilidade que lhe dá um coração frio
E eu tendo mais escolha tenho menos liberdade?
Nasce um riacho, serpente prateada que dentre flores surge de repente,
De repente, entre flores...
Se esconde onde música celebra a piedade das flores!
Que lhe dão num campo aberto a sua fuga
E eu tendo mais vida tenho menos liberdade!?
Assim, assim... Chegando a esta paixão um vulcão qual etna!
Quisera arrancar do peito, pedaços do coração...
Que lei, justiça ou razão pode recusar aos homens privilégio tão suave
Exceção tão única que Deus deu a um cristal, a um peixe, a uma fera, a uma ave?
(monologo segismundo)
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