A revolta oculta dos oprimidos |
Já se passaram sessenta anos. Este é o tempo de vida de Emanoel, um trabalhador que como milhões de outros, serviram ao sistema e ajudaram a enriquecer o patronato. Foram anos de dedicação até que sua energia vital se exauriu e ele foi descartado, como uma caixa vazia e sem vida. Eu o conheci em Porto Velho numa tarde onde passeava no Museu da praça Madeira Mamoré.
Contando sua história de vida, ele falou que teve dois filhos que seguem pelo mesmo caminho do pai. Sem estudo e sem profissionalização, eles também são o tipo ajudante geral. Foram de fato gerados apenas para servir, para mover a maquina do sistema, a fim de que outros possam desfrutar de conforto e qualidade de vida que a tecnologia proporciona.
Ele não revelou abertamente uma grande revolta de seus patrões, até elogiou o último que o dispensou, pelo fato de ter adoecido com uma enfermidade que lhe requeria repouso e medicamentos. "ele foi muito bom comigo". Expressou. Em sua inocência, ele ainda vê o patrão "como um pai", por ter comprado medicamentos que possibilitou a sua recuperação. Mas ao mesmo tempo sente que a diferença na qualidade de vida se acentuou ao longo dos anos. Ele sabe comparar o avanço dos filhos do patrão e a estagnação dos seus, "eles não tinham tempo pra estudar, era só trabalho, tinham que ajudar, então cresceram burro de pai e mãe". Expressou.
Ele me mostrou um jogo da mega sena que fez. Sua esperança no bilhete premiado, se confundia entre as rugas formadas em seu rosto envelhecido, não apenas pelo tempo, mas pela falta de nutrientes e excesso de trabalho com puco descanso. Sua expressão cansada, revelava em oculto, segredos de uma vida sofrida que só a ele pertence. E a tal esperança em ficar rico com a jogatina, ele divide com milhões de outros trabalhadores cansados pelo pais afora. Ele espera e seus filhos também. Provavelmente seus netos vão compartilhar dessa espera que não chega, e que por certo não chegará. Seu Emanoel é só mais um proletário dentre a grande massa produtora em torno do mundo, que existem apenas para servir e enriquecer uns poucos burgueses.
De fato foi curada a ferida do seu corpo com adornos de bondade patronal, fazendo-o crer que viveu amparado, protegido, sob uma falsa sensação de plena liberdade democrática. Ele se dizia conformado, mas no espelho dos seus olhos eu podia ver claramente, brotar em sanguinolentas gotas de silencio, a mortal revolta dos oprimidos, de uma chaga mal curada, num ponto aberto de sua alma.
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